domingo, 26 de abril de 2015

PAPAGAIO


Uma das coisas mais interessantes em Belo Horizonte é sua miscigenação racial, étnica e social. Mesmo que muitos não apreciem tal fato, especialmente os mais abastados, na grande metrópole mineira temos contato com todo tipo de gente, o tempo todo, seja numa feira, num bar, no centro da cidade, num shopping ou num grande evento. Os bairros mais pobres de toda a Grande BH se fundem com os mais ricos de uma forma orgânica e impessoal. Se misturam sem pedir licença. Logicamente, nem sempre foi assim. BH nasceu para ser uma cidade de estirpes higiênicas, como ocorre hoje em outras cidades planejadas. Porém, a ginga pluralista do bom mineiro não deixou que a cidade fosse segregacionista. As camadas sociais estão interpostas de tal maneira que é comum não sabermos onde nos enquadrar nessa história toda. Enquadrar pra quê? Não sou socialista, mas não concordo com segregação social. Me inspira ver o Morro do Papagaio, uma favela (foto) entre o São Pedro, Vila Paris, Sion, Santa Lúcia e o São Bento (entre os mais nobres da cidade). Sou completamente contra qualquer tipo de preconceito, seja por qual for o motivo. Se temos problemas sociais, uma das melhores maneiras de exterminá-lo é o conhecendo e convivendo com ele. Além disso, até que ponto podemos dizer que uma favela é um problema social? Isso depende do ponto de vista, do contexto, da localidade. Um dos mais emblemáticos aglomerados da metrópole mineira, o Morro do Papagaio é uma favela, situada no miolo da Zona Sul, ironicamente comprimida entre diversos bairros nobres da cidade, como dito anteriormente. E, por conta disso, os moradores usufruem de toda a comodidade oferecida pelos bairros abastados. De um lado passa a diplomática Av. Nossa Senhora do Carmo, e do outro, acomoda-se o estreito lago do bairro Santa Lúcia. Apesar da pequena área mostrada na foto, o aglomerado é enorme e conta com cerca de vinte mil moradores. Posso estar enganado, mas acredito que a alcunha "favela" não cabe mais ao local, já que o mesmo possui ruas urbanizadas, asfaltadas, com iluminação elétrica, rede de esgoto água encanada nas residências. Além do mais, a população do morro é pacifica, com praticamente 100% dos moradores trabalhando ou estudando em localidades próximas. Sua localização privilegiada (situando-se a três quilômetros do Centro de BH) faz com que seja cobiçada por estudantes vindos de outros lugares do país, atraídos pelo baixo preço cobrado em aluguéis de pequenos quartos, ante os valores praticados no restante da Zona Sul de Belo Horizonte.

- Charles Tôrres

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