PRÓLOGO
Quinta-feira, nove da noite… dia corriqueiro na marginal ferroviária que corta o downtown belo-horizontino. Vou de metrô, e ouço diálogos constantes que paralelizam o som ambiente e infiltram-se por entre meus ouvidos conforme o diálogo encefálico se cala. Dentro de um trem metropolitano, ficamos mais dispostos à meditação do ser humano, devido à calmaria do trajeto e ausência de paisagens contempláveis. A solitude apresentada nos preserva a capacidade de questionamento interno, conforme a lucidez litigiosa do cidadão. Em tempos de ausência criativa, sacamos um bom livro para lermos, ou nos contentamos com a companhia musical de nossos players, o que não exclui o debate interior. Todos sentimos remorso e razão. Todos sentimos afeto e aversão. Todos culpamos e pecamos, independente de ideologias, predicados. Esse é o homem e a mulher demasiadamente humanos, criadores de religiões e paganismos. Inventores do dinheiro e da miséria. Produtores de armas e cenouras. Cultivadores de famílias, paridores de órfãos. Esses somos nós, irreverentemente adoradores pelo próprio umbigo. Filósofos de metrôs e filas de banco... até instalarmos o Angry Birds.
© Charles Tôrres / BH - Uma Foto por Dia
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