UMA METRÓPOLE SITIADA
Sitiada e engessada pelo poder público, pelo aumento da criminalidade e pela falta de perspectiva de melhora em várias esferas políticas e sociais. Uma cidade que perde seu charme para o assalto à mão armada, para o transporte de má qualidade, para as ruas sujas e fedorentas após eventos públicos, para o crescente número de lojas de rua fechadas por conta de abusivos aluguéis. Quando cheguei em BH, em 2009, conheci uma metrópole que estava muito acima da média nacional no quesito cultural e econômico. BH estava no auge do desenvolvimento até dois anos atrás; e desde então, a situação só regride; e nossas perspectivas com relação ao crescimento da cidade cada vez mais se estingue. A promessa de expansão do metrô ficou na promessa, o Move é um busão queixo-duro mascarado de primeiro mundo que não resolveu o problema do transporte de massa na cidade. A Mineiriana fechou, a Travessa fechou, a Rádio Guarani fechou, o Hard Rock Café fechou, a Dadalto fechou, várias unidades da Feira Shop fecharam, as ruas estão ficando cada vez mais vazias e frias; a Savassi perdeu charmosas livrarias e cafés, se transformando num reduto comercial sem graça e sem expressividade; o Centro de BH (que estava em plena expansão antes da Copa de 2014) estagnou e está deteriorando; o setor industrial esfriou, fábricas fecharam, investidores migraram pra outras praças, grandes empresas encerraram suas atividades. Não, não estou sendo pessimista. Quem me conhece através do BH - Uma Foto Por Dia sabe que sempre fui um grande defensor de BH e sempre falei muito bem da cidade. Não é atoa que o projeto existe há 4 anos, e está em pleno vapor. Mas preciso demonstrar minha indignação por aqui; pois nem tudo são flores e a realidade está estampada na cara da cidade. Preciso contar pra vocês o que sinto com relação à Belo Horizonte. Vim de Brasília, cidade que não oferece nada além de bons empregos públicos, e quando cheguei em BH, fiquei maravilhado com a cidade! Maravilhado com a estrutura cultural, os museus, as praças bonitas, o comércio, os cafés, as livrarias de rua. Mas agora o que restou foi uma revolta muito grande em ver uma metrópole como BH, com um potencial imenso, se transformando em uma cidade qualquer, sem beleza, sem vida. Entre 2009 e 2013, eu via artistas nas ruas, dançando, pintando, tocando. Fotografei várias bandas de rua aqui no Centro e também na Savassi. Aliás, a Savassi era puro charme e respirava arte e cultura. O Centrão era um espetáculo diário de artistas e intervenções; lojas bacanas, comércio pulsante. Agora só vemos mendigos se arrastando pelas ruas e bêbados querendo abraço. As melhores lojas do Centro já não existem mais. Aliás, as melhores lojas na cidade inteira, pois a crise está abalando todos os vetores econômicos. O desemprego cresce de forma pavorosa juntamente com a criminalidade. Todos os dias temos notícias de assaltos, sequestros, dentre outros delitos. BH voltou a ser como ela era nos anos 90. Só falta os camelôs nas ruas. Aliás, fiquei sabendo até os chineses estão vazando de BH. Estivemos a beira de ter uma própria "chinatown" aqui, o que seria fantástico para o turismo na capital mineira. Enfim pessoal... a verdade é que continuo amando BH mais que qualquer outra cidade no Brasil. Mas assim como no texto de ontem, hoje precisei fazer um apelo contra a crescente decadência de nossa querida Belo Horizonte. Não vamos ficar esperando a política melhorar para fazer de BH uma cidade mais humana, mais calorosa e mais pulsante. Não vai ser a Dilma, o Temer, o Aécio, o Bolsonaro ou qualquer outro canalha político que vai fazer a economia voltar a girar e as coisas melhorarem. As perspectivas são péssimas; se nós mesmos não colocarmos as mãos na massa, quiçá nossos netos poderão desfrutar de uma cidade igualitária e digna aqui na capital mineira. Fé na tábua!
© Charles Tôrres / BH - Uma Foto por Dia
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